segunda-feira, 6 de maio de 2013

Na hora do almoço

Não consegui pregar os olhos aquela tarde. O barulho das máquinas rangendo, batendo e quebrando enchia o lugar todo. Era hora do almoço. A minha hora de almoço. Uma péssima hora para almoçar.
Duas horas de descanso. Sem nenhum descanso. Eu podia sair do pátio e dar uma volta, mas o sol estava de rachar, e minha cabeça explodia de tanta dor. Para ajudar meu livro já estava quase no fim. Um bom livro do velho Hank. Andei economizando as páginas nos últimos dias para momentos como esse. E para ter distração durante a jornada de ônibus de volta para casa. Não tinha café, alguma coisa aconteceu com a máquina. Aquilo me deixou profundamento consternado. Fui até o estacionamento, e me apoiei na mureta próxima a encosta do morro. De lá podia ver metade da cidade. Acendi um cigarro. Uma brisa suave e fresca passou por ali. Isso melhorou as coisas.
Tenho o hábito de filosofar e ponderar minha vida e sobre a vida quando fumo ou bebo. Diferente do convencional, quando estou embriagado  fico mais sério que o normal, e durante a ressaca faço piadas a torto e a direito, na maioria delas me usando como origem da graça toda. Enfim, quando fico nesse estado, adiciono uns trinta anos de vida a minha idade. Reclamo como um velho. Eu já penso como um na maior parte do tempo. E acho tudo uma perda de tempo, um monte de merda. Abandono as expectativas. Me conformo em comer, dormir, foder, beber, fumar, jogar e trabalhar. Vivendo sozinho. Vendo todos correrem atras de sonhos. Como formigas. Não passo de um espectador, uma sombra que não existe, algo sem luz. Não como um Chefão, o Senhor ou o Manda Chuva. Só um peão sem importância. Que curioso olha para os lados e não só em frente para aonde a fila anda. A fila que todos percorrem até a morte, nessa vida de merda.

- Renan M. Duarte


Um comentário: