domingo, 30 de dezembro de 2012

Fora da Matilha: Os Renegados - A Descoberta

Hunter arrancou um gemido grave do fundo da garganta e tentou acelerar, mas já era tarde demais. Um lobo grande e negro surgiu no seu campo visual, pela esquerda, e mordeu sua coxa, o que o fez se retrair e cambalear.
Outro lobo – Mais lustroso e cinza, como fumaça – apareceu pela direita e arrancou-lhe o sapato. Ele caiu de joelhos e um forte impacto em suas costas o fez tombar sobre o próprio ventre. Atordoado ele ficou deitado até levar um forte pontapé nas costelas, um jovem alto de cabelos loiros com um corpo atlético e olhos azuis que se destacavam na escuridão da noite levantou do chão e o atirou de encontro a umas latas de lixo que estavam perto da parede.
Ele se levantou do chão e ainda cambaleando viu um lobo de pelo lustroso cinza vindo em sua direção, com as presas a mostra e a cauda agressivamente erguida.
As costelas, o joelho e as mãos de Hunter ardiam, e seu coração martelava, mas ele não estava mais amedrontado. Na verdade, ele estava ficando zangado, ele cerrava os dentes e apertava as mãos com tanta força que estava começando a corta às próprias palmas. O som de tambores invadia seu crânio, e uma névoa rubra se fechava sobre ele, vindas dos limites de seu campo visual. - Como ousavam fazer isso com ele? Ele nem se quer os conhecia. Hunter até pensara deles serem de outro bando.
- Maldito seja, Hunter. – o jovem de cabelo loiro gritou ao tirar algo comprido e metálico sob o, sobretudo preto. – Só queremos conversar. Agora talvez ensinemos a você uma lição sobre...
O corpo de Hunter ardia, como se tivesse acabado de tomar banho com palha de aço. O Trovão rugia em seus ouvidos, era o sou do seu coração que tentava explodir. O luar que atravessava as nuvens escuras queimava-lhe os olhos. No fundo da boca ele sentia o gosto elétrico de uma fúria que parecia mais antiga que a humanidade. Não era raiva, simplesmente, era algo mais puro e mais poderoso.
Sentir esse poder terrível e aceita-lo provocou o rompimento do último lacre que mantinha Hunter sob controle de sua transformação, e todo o seu corpo emergiu aos gritos. Era como se ele tivesse sido atingido por um raio. Seu sangue evaporou... sua pele se rasgou e queimou de dentro para fora... suas juntas ósseas foram diminuindo, seu dentes cresceram e se amontoaram, forçando os maxilares a se abrirem ... suas roupas rasgaram quando seu corpo se transformou. E foi então que Hunter produziu um som melancólico e inumano, repleto de fúria e alívio e um murmuro saudoso. Era um uivo legítimo, e foi como se o som pudesse percorrer todo o quarteirão antes dele ficar sem fôlego. Hunter acabara de se transformar em um lobisomem. Seu rosnado era apavorante e gélido, Hunter podia sentir o cheiro da barraca de cachorro quente a quinze ruas da li, seu pelo todo branco quase transparente o destacava dos demais. O jovem loiro se calou e, por reflexo, deu um passo para trás, e os dois lobos olhando recuaram, abaixando a cauda. Os dois pareciam tão fracos agora. Havia medo em seus olhos, Hunter podia ver isso através de seus olhos amarelo-ouro e também em seus cheiros, e ao farejá-los, Hunter soube que tudo o que ele tinha a fazer era se deixar levar, livra-se deles e colocar-se a salvo.


- Aldo Sanches

  

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