Uma cena chocante
foi ver minha mãe esverdeada, em plena putrefação, transformada em zumbi,
olhando para seu pequeno cachorro Max, entoando um grunhido melancólico e profundo.
Talvez por ter ciência de sua condição monstruosa e entender que jamais poderia
chegar perto dele sem contaminá-lo.
Ah, diacho
de pesadelo! A overdose de jogos de zumbis injetados no meu pc certamente teve
algum efeito na elaboração desse sonho. Alguns psicólogos - mais precisamente,
Klaus Woelfling - dizem que isso acontece quando o jogador não consegue mais discernir
o momento em que deve começar ou parar de jogar, e nem por quanto tempo faz
isso. Ah... psicólogos e suas deduções aguçadas sempre me deixam abalado.
Creio que
estou divagando, mas agora já era! Antigamente (a uma página atrás), acreditava
que com o videogame eu poderia
extrapolar meus limites, ou ao menos sentir-me insuperável. No entanto, o filósofo, psicanalista e esquerdista
Slavoj Zizek, afirma que quando estamos controlando um personagem violento,
sádico, efeminado, estuprador etc., nos sentimos confortável não só por
fantasiarmos por tal personagem, suprindo nossas carências; mas sim pela possibilidade dessa identidade representar
nossa verdadeira psique. Já que na vida real, devido aos limites sociais,
não podemos nos soltar; e também por acreditarmos em se tratar só de um jogo -
de um espaço virtual - nos exibimos de uma maneira muito mais autêntica, e
muito mais próxima do nosso verdadeiro eu.
Ou seja,
precisamos da desculpa de uma ficção para mostrar aquilo que realmente somos.
Mas,
voltando ao famigerado medo, certa
vez um cara me falou de quando um
escritor amador enviou um conto pra Clarice Lispector, recebendo dela a seguinte
resposta: “Você tem muito medo. Um
escritor não pode ter medo.”
Aí, paro e
reflito. Hoje, se não tivesse medo, esta crônica definitivamente não existiria.
Porém também penso nas dezenas de crônicas que viriam à luz caso eu não
possuísse medo de escrevê-las...
Bom, quem
sabe um dia, meu corpo perca o juízo e deixe de cicatrizar alguma ferida, criando
assim, uma ferida-aberta.
- Paulo Fernandes
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