quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fora da Matilha: Uma ferida aberta, sobre o medo e a importância dos videogames - Parte 04

Noite passada tive um sonho. Minha cidade estava infestada de zumbis. Muitos morriam, muito se infectavam. Lembro de saltar da nossa ponte principal enquanto ela desabava sobre o rio devido a uma explosão. Armas e munições não eram problemas, cada um tinha seu estoque particular. Incrível como que muitos preferiam a tradicional escopeta.

Uma cena chocante foi ver minha mãe esverdeada, em plena putrefação, transformada em zumbi, olhando para seu pequeno cachorro Max, entoando um grunhido melancólico e profundo. Talvez por ter ciência de sua condição monstruosa e entender que jamais poderia chegar perto dele sem contaminá-lo.

Ah, diacho de pesadelo! A overdose de jogos de zumbis injetados no meu pc certamente teve algum efeito na elaboração desse sonho. Alguns psicólogos - mais precisamente, Klaus Woelfling - dizem que isso acontece quando o jogador não consegue mais discernir o momento em que deve começar ou parar de jogar, e nem por quanto tempo faz isso. Ah... psicólogos e suas deduções aguçadas sempre me deixam abalado.

Creio que estou divagando, mas agora já era! Antigamente (a uma página atrás), acreditava que com o videogame eu poderia extrapolar meus limites, ou ao menos sentir-me insuperável. No entanto, o filósofo, psicanalista e esquerdista Slavoj Zizek, afirma que quando estamos controlando um personagem violento, sádico, efeminado, estuprador etc., nos sentimos confortável não só por fantasiarmos por tal personagem, suprindo nossas carências; mas sim pela possibilidade dessa identidade representar nossa verdadeira psique. Já que na vida real, devido aos limites sociais, não podemos nos soltar; e também por acreditarmos em se tratar só de um jogo - de um espaço virtual - nos exibimos de uma maneira muito mais autêntica, e muito mais próxima do nosso verdadeiro eu.

Ou seja, precisamos da desculpa de uma ficção para mostrar aquilo que realmente somos.

 Há o que se pensar...

Mas, voltando ao famigerado medo, certa vez um cara me falou de quando  um escritor amador enviou um conto pra Clarice Lispector, recebendo dela a seguinte resposta: “Você tem muito medo. Um escritor não pode ter medo.”

Aí, paro e reflito. Hoje, se não tivesse medo, esta crônica definitivamente não existiria. Porém também penso nas dezenas de crônicas que viriam à luz caso eu não possuísse medo de escrevê-las...

Bom, quem sabe um dia, meu corpo perca o juízo e deixe de cicatrizar alguma ferida, criando assim, uma ferida-aberta.
 
- Paulo Fernandes
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário