Quando estou jogando, uma voz dentro de mim me importuna perguntando quando é que vou desligar essa merda e revisar as 18 páginas da minha história. Enraivecido, abafo essa voz apertando com mais força os botões do joystick.
Tenho um amigo,
que hoje é advogado e careta, que pondera de forma mais moderada sobre o
assunto. Pra ele o videogame é apenas
mais um escapismo, mas não no sentido de nos fazer ignorar a vida por
completo ou de não querer mudá-la. Jogar é só uma atividade recreativa assim
como qualquer outra sem propósito aparente, tipo futebol, costura, baralho ou
punheta - segundo suas próprias palavras.
Eu o rebati,
na época da discussão, dizendo que até hoje nunca presenciei um jogo que me
fizesse questionar os problemas sociais, com exceção talvez de um ou dois de
pequeno porte. E o sistema nervoso dos videogames sempre pertenceu às grandes
corporações. E embora os jogos possuem certo refinamento em seu design ou
engenharia, não carregam o “fardo” de ser considerado arte - nem poderiam, pois
o risco de prejuízo seria alto.
Meu amigo
respondeu que um jogo estritamente compromissado em nos transmitir algo, não
seria divertido. E que não havia problema algum em se divertir por alguns
momentos, quebrar a dureza do cotidiano...
Exatamente,
repliquei, a diversão nos ludibria e nos distancia da realidade, ao menos daquilo
que tem de pior para oferecer. Ou seja, nos aliena.
Meu colega ainda
afirmou que a alienação varia de cada um, nem todos se entregam e esquecem do
resto tão facilmente...
Enfim, a
discussão é longa. Os jogos eletrônicos são amados por muitos jovens e adultos
tanto quanto são odiados ou menosprezados. Aliás, foi esse mesmo colega que
certa vez, quando ainda estudava pra prova da OAB, me disse que um conhecido
seu perdeu o estágio no fórum porque descobriu a existência dos emuladores de
Super Nintendo e resolveu não sair mais pra trabalhar.
(A nostalgia
é algo intensamente marcante pros gamers.)
Também tenho
o exemplo de quando trabalhava numa gráfica. Um funcionário flagrou nosso
patrão (de 40 e poucos anos) jogando Paciência no notebook, e depois foi
demitido por ter revelado isso a galera.
Parece que
nosso empregador ficou bastante aborrecido por ter sido descoberto jogando.
Vergonha?
- Paulo Fernandes
Nenhum comentário:
Postar um comentário