Assustado
pelo medo, procuro algo para esconder o quão patético sou, algo que me ludibrie
e não me deixe enfrentar os problemas. Resumindo: vou jogar videogame! Havia -
não, ainda há - uma história que preciso revisar. Terminei de escrevê-la na
semana passada.
A pior história que já escrevi em 18 páginas. Ficou ruim porque
sei que ficou. Então, é necessário
consertar, cortar as conjunções ou advérbios excedentes, verificar o fluxo das
orações, os tempos verbais etc.. Já deveria ter feito isso, mas tenho receio de
deparar-me com os meus erros, além do fato de ter prometido entregar essa
história a uma colega que edita um zine bimestral de ficção científica lá em
Vitória.
Sentindo-me
sob pressão, envergonhado e amedrontado, fujo para os jogos eletrônicos. Sob
uma ótica semi-existencialista, compreendo o quanto minha escrita é importante,
e o que a aceitação daquela editora poderia significar pra mim, afinal, o zine
dela já se encontra em seu 21º número, possui certo renome no cenário
underground da Grande Vitória. Mas no videogame me sinto tranquilo, em paz, por
assim dizer. Não há lugar para insegurança, não preciso me expor nem ser
submetido a olhares e avaliações alheias. Minha integridade continua intacta,
pois há segundas chances. Sempre que meu personagem fracassar posso retornar ao
ponto de partida. É o tipo de vida que desejo, sem imposições sociais, sem
denegrir minha moral, um espaço onde é possível esquivar de minhas
responsabilidades sem ter que me sentir culpado, não há barreiras reais nem
limites comportamentais no jogo. É onde tenho a oportunidade de ser competente,
de me superar. E não há a menor probabilidade de me decepcionar com o
resultado, seja ele qual for, porque é o mundo virtual. Um “faz de conta” com o
qual posso, por algum tempo, preencher o vazio e reter a fraqueza que há em
mim.
Não tenho
medo quando estou no videogame.
E isto é
muito bom. Ora, não quero ridicularizar os gamers,
e nem poderia, já que pertenço a uma época em que criança sem videogame era
criança infeliz. Pois é, os jogos eletrônicos possuem grande importância para
mim e acredito, para toda geração oitentista.
Os jogos
foram incorporados em nosso modo de vida sem que pudéssemos decidir, pois
éramos crianças, aquilo simplesmente nos fazia bem. Acreditei piamente - pois
naquela época ninguém me abordava com tais questionamentos -, que jogar Mario
Bross, Pac Man, Street Figher, Zelda, Donkey Kong, Bomberman, Rock’n Roll
Racing, Sunset Riders, Mortal Kombat, Castlevania (só pra citar alguns dos mais
famosos 16 bits) poderia me conduzir à diversão suprema.
O videogame
teve uma participação carinhosamente especial em minha formação, sem que meus
pais pudessem interferir, pois não estavam preparados para compreender sua relevância.
Eles nada entendiam de videogame; ou me deixavam jogar ou me proibiam. E como
sabem, a abstinência pode acarretar uma ansiedade incontrolável.
- Paulo Fernandes
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