sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Espere o Inverno. (uma homenagem à John Fante)

      O concreto pregado na mão grossa, cortando a pele, o suor escorrendo testa abaixo, mais uma caixa de massa feita, enchendo os baldes e subindo pavimento acima.
Não é um dia fácil de trabalho, o calor dificulta, tem feito muito calor nos últimos dias, um calor fora do normal, parece cada vez mais quente.
      Bandi lembra da mulher em casa, cuidando de suas filhas, sua mulher alcoólatra, filha de uma beata, ele a odeia, mas permanece casado com ela, o sexo é ardente, tão ardente quanto a vodka que ela não consegue parar de tomar. Suas filhas atingindo a idade do cortejo, ele prefere ignorar isso, e pensar na boceta de sua mulher, estará quente ao chegar em casa, sempre está. Artur, pai de Bandi, era tão pedreiro quanto o próprio Bandi, era seu orgulho, desde cedo aprendendo a virar a massa, a mão sempre calejada, nunca o quis decepcionar, trabalhar em obra faz parte da tradição familiar, faz parte de sua família, mesmo que ele odeie esse trabalho, ele respeita mais a tradição que o seu ódio.
       Suas filhas devem estar saindo com rapazes, ele quer matá-los, ninguém encosta em sua filhas, podem comer sua mulher, mas não suas filhas, mas não seus anjos. As horas parecem não passar, o calor castiga, o calor o faz alucinar, o gosto salgado do suor entrando na boca, engolindo areia, ele detesta essa profissão, mas ama seu pai.
    Logo o inverno chegará, logo a neve chegará, os mesmos problemas continuarão, sua mulher continuará alcoólatra, suas filhas continuarão saindo escondidas, e ele continuará sendo pedreiro, e ele culpará o inverno, e irá esperar a primavera.

- Jadson Damien

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