sábado, 23 de fevereiro de 2013

um conto

      Whisky e um copo vazio, uma cadeira feita de bambu trançado, e o copo cheio e a garrafa de whisky agora um pouco mais vazia, ele joga ecstasy no copo e balança bem, não sem antes mastigar alguns cogumelos, e o dia avança, um dia de chuva, nublado, sem sol, ele olha da janela as ruas movimentadas com várias sombrinhas multicoloridas,
ele sente a vertigem e fica flutuando, levanta da cadeira e vira o whisky direto da garrafa, então ele entra no espelho, e vai para sua terra de paz e aventuras, um homem de trinta e cinco anos, que ainda visita as terras de sua infância quando está deprimido, e lá ele reencontra todos seus grandes amigos, todos do mesmo jeito que se lembrava, Bob, o velho mago de duzentos e cinqüenta anos, Arthur, o elfo que sempre diz coisas sábias, Aldo, o anão estúpido que só pensa em beber, e Angel, sua amada de ainda quinze anos.
      Jonas agora sente que está confortável, aqui ele é um grande bruxo e herói, começou com apenas doze anos, e derrotou a rainha maligna chamada Desire, e também derrotou Bafo, o bruxo da floresta negra em sua batalha mais árdua, e ele tinha apenas treze anos quando o derrotou, e se emprenhou e muitas aventuras, fez revoluções nas tardes que tinha folga da escola no mundo humano, e até hoje lembram dele por aqui como um herói, e até Peter, o grande rei branco o respeita, mesmo que agora, Jonas esteja velho e um pouco mais gordo e lento, ele lembra que seus olhos negros costumavam intimidar a todos, e um névoa começa a se formar nas suas lembranças, agora tem que fazer força pra lembrar de algumas coisas, enquanto outras ele não sabe se é apenas sua imaginação, e tem vergonha de perguntar a alguém, ele não quer parecer um homem de meia idade louco e abandonado.
      Os pássaros falantes se aproximam, e trazem notícias do fronte, Jonas não sabia que estavam em guerra, aqui parece tudo em ordem, todos vivendo em paz, mas Peter, o rei branco, lhe diz que o Bafo está retornando, e novas pestes começam a invadir território, e pergunta se Jonas está pronto para mais uma grande aventura e lhe entrega a chave da grande caverna, o lugar onde guardam seu antigo companheiro, Tolk, o grande dragão azul, o mais poderoso dos dragões, e ele pensa se deve realmente ir lá, mas está com saudades do seu velho amigo, e segue tropeçando nas pedras a caminho da caverna, não tem mais a mesma agilidade e equilíbrio, e suas mãos tremem ao abrir o portal, e ao ver Tolk as lágrimas escorrem em torno do seu sorriso, seu sonho se torna verdade, ele e Tolk estão juntos novamente, e saem caminhando pela velha estrada de terra, a mesma estrada que o acompanhou anos atrás, o mesmo caminho, para agora voltar a viver novamente perigos que causam sofrimento e glória, mas nunca sua morte, ele é o grande herói, sempre foi, e Tolk sempre o protegerá, e assim desaparecem floresta adentro.
      O campo de batalha não mudou em nada, ainda parecem fogos de artifícios brilhando no céu, ainda parece mágico. Duendes, fadas, anões, elfos, ogros, trolls, reis, árvores falantes, leões, magos e bruxas, todos estão lá, todos ainda brigam uma luta sem fim, uma luta que ninguém jamais morre, e todos ainda estão lá, repetindo as mesmas frases, e seus olhos brilham enquanto Tolk o leva para cima, e ele pode ver mais dragões, gigantes que se aproximam pelo norte, lindas heroínas que vem a toda velocidade, com feitiços e espadas, e lá está sua amada liderando o ataque, agora é diferente, antes ela era mais velha do que ele, agora ele está com mais que o dobro de sua idade, aqui nada parece envelhecer, tudo parece igual, e ele figa vagando em seus pensamentos, enquanto a batalha estoura, e espadas são quebradas, feitiços são lançados, dragões e águias partem pro ataque, gigantes e árvores se digladiam, elfos com suas armaduras lendárias atacam com flechas, e o rei branco lidera todos corajosamente, ninguém parece ter medo da morte, ninguém jamais desapareceu, ferimentos podem e sempre foram curados, Jonas olha com admiração, como pôde ficar tanto tempo longe da sua casa, ele deita e abraça seu dragão, e sente a respiração de ambos, como se fossem um só, e não pode conter sua felicidade por estar ali, e sem motivo, seu dragão e amigo o leva para longe, ele não entende, por que está sendo levado embora? ele queria continuar lá, queria lutar, como nos velhos tempos, então ele não ouve mais os sons da guerra, o silêncio repentino corta o ar, ele é colocado no chão e sem forças não consegue falar, parece que todos estão a sua volta e todos o observam com tristeza do olhar, alguns choram, mas por que? porque? ele não entende, está fraco, sua visão começa a ficar turva, e o rei branco segura sua mão...

- Doutor, o paciente está tendo outra convulsão
- é a overdose, logo ele irá a óbito, pelo menos está morrendo dormindo
- será que ele está sonhando doutor?
- espero que sim, é melhor que sentir dor, não é verdade?

- Jadson Damien

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