sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Histórias de cortiço – Parte 03

      Chove, chove forte, goteiras no corredor, a chuva é linda, mas fria demais. Todos estão no quarto, todos menos o cara que trabalha de segurança, um sujeito grande, cerca de 1,92m, forte, negro, ignorante, cabeça raspada.
Ele tem o costume, de após o trabalho, ir num puteiro na Augusta, beber, olhar, ver um strip, e vez ou outra ganhar o boquete de algum gay.
      Ficamos jogando cartas, bisca, as vezes truco, não podemos ligar a televisão, ela tem horários para funcionar, estou mais habituado, ganho uma certa proteção de um ou outro, o moleque que veio parar na cova dos leões. Vou dá uma cagada, levo o jornal, não temos papel higiênico, não temos descarga, usamos baldes pra fazer a merda sumir, dá um trabalho e tanto.
      A chuva diminui, me visto e vou andar, tenho costume de sentar nas praças do lado de fora dos metrôs, observar, ver as pessoas indo e voltando, imaginando o que fazem, onde moram, se tem uma sorte melhor que a minha, peço um x-bacon, o devoro, e entro na estação de metrô, e sigo em direção a zona sul, próximo a estação Santa Cruz, preciso me inscrever nos cursos que vim fazer, andando com dinheiro vivo no bolso, se eu fosse roubado, não teria nem o que comer, mas pelo jeito tenho sorte, sorte na cidade grande, pelo menos até agora.
      Encontro o endereço que procuro, aperto a campainha, subo as escadas, tiro o dinheiro do bolso, pago, e volto pra trás, satisfeito. Agora é só encarar a conexão da estação da Sé, e voltar à "pensão", ainda preciso ver o que comerei na noite paulista.
      Sinto frio, outra noite gélida, me cubro com minhas roupas, não tenho cobertas, não tenho lençóis, sinto que a dignidade é medida de acordo com sua necessidade, sinto isso na pele, sinto nas profundezas dos ossos, na raiz da carne, meu cérebro parece chacoalhar, me encolho, abraço as pernas, e conto, minuto a minuto, minuto a minuto, e espero pelo raio do sol, e fico em frente a janela, tento roubar o calor do sol, estou definhado, estou cedendo.
      - ei, capixaba, você tem insônia?
      - não, apenas frio, vou tentar dormir pelo menos 1hr antes de sair, se puder, me acorde, ok bahiano?
      - pode deixar comigo, vai dormir capixaba.

     Penso que logo irei sair, e desfaleço na cama dura...

- Jadson Damien


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