quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fora da Matilha: Uma ferida aberta, sobre o medo e a importância dos videogames - Parte 01

Gostaria de ter uma ferida aberta. Seria interessante. Dissipar o medo cutucando-a. A dor física que me levaria ao grito, à raiva, ao ódio e, consequentemente, ao rancor.
Assim não haveria espaço-tempo para o medo; essa corrente invisível de chumbo que me terrifica e empala quando penso em encarar o desconhecido.
Mas o que é exatamente o medo? Uma simples reação fisiológica interligada à minha autopreservação? Uma espécie de doença crônica que me liquida aos poucos?
Não é só o famigerado medo que me rege, a culpa também passeia por outras forças, como a vergonha, covardia, preguiça, desistência.
Mas todas estão relacionadas. Ex.: “Tenho medo da vergonha de ter covardia por ser preguiçoso e me ater à desistência”. Neste momento estou me entorpecendo com música alta, não me permitindo parar pra analisar se a última frase que escrevi está mesmo coerente. Caso contrário, terei de desmanchar, criar outra, então é melhor fazer vista grossa.
Não tenho só medo de enfrentar as consequências dos meus atos, também tenho medo do que o acaso pode me reservar ou, melhor dizendo, tenho medo do futuro. Certo dia minha namorada relatou ter visto várias formigas rodeando meu mijo na beirada da privada. Cogitou a possibilidade de eu ter diabete. Insistiu para que fôssemos ao médico e lógico, rejeitei a ideia. Pra que querer saber se meu corpo está funcionando mal? Pra mim ele está muito bem, é assim que me sinto, e isso é mais que o suficiente.
A ignorância me mantém confortável. E quem não gosta de conforto, sombra e água fresca? Confesso que prefiro dormir numa rede do que num chão de concreto, ao menos quando tenho a oportunidade de fazer tal escolha. E outra, se descobrir que tenho mesmo diabete, minha saúde poderia piorar (é assim que funciona com quem descobre o câncer, não é?). Do que me valeria saber, então? Digo isto a minha namorada, mas ela não entende. Não é tão medrosa quanto eu.
Tenho um amigo que vive trepando sem camisinha com qualquer mulamba que encontra por aí. Vez ou outra vai ao hemocentro doar sangue. Pra mim ele é maluco. A chance de aparecer soro positivo é grande. Mas isso não lhe traz preocupação nem o impede de fazer sua “contribuição humanitária”. Já eu, nunca doei sangue. Tenho medo, ora. Como disse, a ignorância é uma rede onde posso relaxar e viver até os últimos dias de minha vida. Sacou?
Hum, às vezes penso que na velhice me tornarei um rabugento insuportável. Isto é, se as doenças que suspeitosamente habitam em mim não me matarem até lá.

-  Paulo Fernandes

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